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Antônio Leite de Araújo Filho

Santiago/RS

Presidente da Sociedade Espírita Jesus em 1949. Saiba mais em nossas Origens.

Antônio Leite de Araújo Filho nasceu aos 8 de agosto de 1914, no Rio de Janeiro. Foram seus pais: Antônio Leite de Araújo e Alzira Câmara Ribeiro Araújo. Seu curso primário, ele fez no Colégio Afonso Pena, frequentando, em seguida, o Colégio Pritaneu Militar. Ingressou na Escola Militar de Realengo, de onde saiu aspirante a oficial do Exército, em 1937.

Depois de servir por algum tempo no Rio de Janeiro, foi transferido para São Paulo. Na capital paulista conheceu aquela que seria a sua futura esposa, Maria José de Araújo, falecida em dezembro de 1999. Transferido para Curitiba, ela, que era funcionária pública, conseguiu também transferência para a mesma cidade, passando a residir com uma tia, irmã de sua mãe, ambas adeptas do Espiritismo.

Sua tia frequentava a Federação Espírita do Paraná. Por isso, acompanhada pelo noivo, Maria José se vinculou à Federação, tornando-se os dois trabalhadores dessa entidade federativa. Casaram-se em 1945, mudando-se novamente para o Rio de Janeiro. De lá foi deslocado para Santiago do Boqueirão, no Rio Grande do Sul.

Certo dia, através de mensagem mediúnica, um amigo espiritual informou a Maria José que ela e o seu esposo teriam importante tarefa a cumprir na Terra: organizar uma creche e proteger crianças abandonadas. Dias depois, um Sargento de uma guarnição ficou viúvo, com a filha de nome Cibele, em grande dificuldade. O casal resolveu criá-la. Era a primeira criança da previsão espiritual.

Três anos depois de casados, nasceu o primeiro e único filho, Antônio Leite de Araújo Neto. Nesse tempo veio servir em Fortaleza. Aproximou-se deles um garoto chamado Adão, muito esperto e sem família, que eles passaram a auxiliar. O menino implorou para ficar na companhia do casal, no que foi atendido.

Tempos depois, D. Maria José recolheu, na porta de sua casa, uma criança com poucas horas de nascida, registrando-a com o nome de Sheila Maria. Com o passar dos dias, verificaram ser ela excepcional. Viveu 34 anos sob os cuidados e carinho de ambos. Outra menina, Rosa Rosália, foi igualmente deixada na porta.

A partir daí, outras foram chegando. Em pouco tempo, cuidavam de dez crianças. Todas com atestado de guarda e posse dados pela justiça. Com esse número de filhos, decidiram fundar a Instituição Espírita “Nosso Lar”, em 26 de setembro de 1948, a fim de possibilitar o recebimento de auxílio federal, estadual e municipal. No posto de Capitão, Antônio não possuía condições de manter família tão numerosa. Em 1954, já tinham sob sua guarda 44 crianças. Em três anos, deixaram na porta do “Nosso Lar”, durante a madrugada, nada menos de 18 crianças, algumas com o umbigo sangrando.

O General Leite teve participação ativa no Movimento Espírita cearense. Recebeu Leopoldo Machado e os membros da Caravana da Fraternidade, em 1950. Foi amigo de Peixotinho, estando presente em algumas sessões de materializações, por ele prodigalizadas. Trabalhou junto à Cruzada dos Militares Espíritas, no Núcleo fundado pelo General Celso de Freitas. Foi um dos mais importantes nomes na organização das atividades comemorativas do centenário de publicação de O Livro dos Espíritos, na Praça José Bonifácio, em 1957, que mobilizou toda a família espírita local.

Sua desencarnação, fruto de uma cilada covarde, ocorreu em Fortaleza, no dia 2 de junho de 1987. Seu biógrafo, o confrade Antônio Lucena, assim relatou o funesto e doloroso episódio (Pioneiros de Uma Nova Era Espírita do Brasil): “Fortaleza, a Capital do Ceará, rendeu tributo a um homem bom, barbaramente assassinado. A repercussão foi enorme.

Todo o país se comoveu profundamente com o que ocorreu com o General Antônio Leite de Araújo Filho, na manhã de 2 de junho de 1987, quando se dirigia para o seu abnegado trabalho na Casa de Repouso Nosso Lar. Ele foi agredido a faca, caindo mortalmente ferido e o criminoso sacando de um revólver, deu-lhe três tiros, um dos quais atingiu a nuca, prostrando-o sem vida. Fugiu o assassino sem deixar pistas.

Tal ocorrência, na visão espírita, significa que se cumprira assim a Lei de Causa e Efeito, no resgate a dívidas do passado. Considerado como verdadeiro missionário, pela obra altruística de amparo à criança órfã e abandonada, aos velhinhos e aos doentes do corpo e da alma. Tal morte, verdadeiramente, só pode ser um final de provas.”

Termo de aberturado do livro ata de 21 de abril de 1949, assinado por Antônio Leite de Araújo Filho.

Depoimento de Dona Maria José

Pedimos vênia à Editora Fraternidade Espírita Francisco Peixoto Lins, para transcrever depoimentos da esposa do nosso querido irmão General Antônio Leite – Dona Maria José –   do Livro “Materialização do Amor”, de Humberto Vasconcelos, pág. 29 à 32, conforme abaixo:

A Mãe e os Filhos

“Pois é, tudo começou numa sessão de nosso Peixotinho. Foi no Rio de Janeiro, onde Leite, (esposo de Dª Maria José), então oficial novo, estava servindo.

Éramos felizes, mas não tínhamos filhos. Casados, já havia cinco anos, não aceitávamos a inexistência dos rebentos.

Os recursos materiais, já tinham sido esgotados. Não havia mais a quem recorrer. Até que nos foi dada a oportunidade de uma consulta espiritual. Da consulta à reunião de tratamento.

Peixotinho, médium. Luzes apagadas, ansiedade. Scheilla surge materializada, belíssima. Acerca-se de mim. Explodi de emoção, lágrimas invadindo meu rosto.
– Como é – exclama, dócil – uma mãe chorando por um filho e tantos filhos, nas ruas, chorando por uma mãe!

– Pois é, Scheilla, consegui articular.

– Não se perturbe. Você vai ter um filho, para aprender a amar, nesse filho, os filhos de outras mães.”
“Logo depois, seguíamos para o sul, mas eu já conduzia no meu ventre aquele que seria o filho único. Único não houvesse Cibele, a filhinha gaúcha adotada.

Depois dela foram uns 400, por aí.”

Assim começou um memorável encontro com Dona Maria José Leite, dirigente da Instituição Espírita Nosso Lar, de Fortaleza, Ceará.  Nosso Lar não é um abrigo de crianças, muito menos orfanato.

É Lar mesmo, instituição humano-divina que alberga e distribui o  mais lapidado dos sentimentos: o Amor. De Cibele à criancinha de 3 anos que brincava distraída a um canto, foram 400 meninos e meninas, ao longo dos mais de 40 anos de existência da grande obra  espírita-cristã da Rua Carapinima.

No interesse da grande obra, o então militar opta por permanecer em Fortaleza, até ser reformado no posto de General.  As primeiras crianças adotadas foram registradas como filhos.

Tempos depois, ante o aumento desmesurado da família, o Juizado  de Menores local houve por bem instituir a guarda provisória, figura legal que melhor se ajusta aos casos de adoção múltipla.

E a família foi crescendo, muito além dos limites permitidos pelo soldo do General. “Quando saíamos de carro, às compras ou a passeio, era preciso deixá-lo fechado”, relembra Dª Zezé.

“Assim mesmo, quantas vezes encontrávamos um bebê embrulhadinho sobre a capota do veículo. Não restava outra alternativa, senão acomodar o novo filho, trazê-lo para casa, alimentá-lo, medicá-lo e, acima de tudo, compensá-lo com régias dosagens de amor, para que não lhe restassem traumas no futuro.”

Uma casa com mais de 100 filhos exigia muito trabalho e dedicação. E muito dinheiro. As doações e ajudas de amigos não chegavam na medida das efetivas e permanentes necessidades da Casa. Foi então necessário partir para uma entidade mantedora. E o Espiritismo-Cristão mais uma vez ofereceu o modelo.

O casal instalou um hospital psiquiátrico espírita, em 1968, com o nome de Casa de Repouso. O trabalho científico correto conquistou a confiança do INAMPS e, mais tarde, do Sistema Unificado de Saúde, que passaram a utilizar os serviços do hospital, mediante devida remuneração. Ainda assim, houve períodos difíceis, porque flutua de forma desconfortável a política pública de saúde do Brasil.

Mas o verdadeiro e puro amor não sofria interrupções no percurso traçado por Jesus, à luz renovadora da doutrina imortalista do Espiritismo.

O testemunho emocionado veio de Miriam, uma das filhas mais velhas, hoje colaboradora e dirigente da Casa. “Na verdade acentua – todas as crianças foram mensageiras da felicidade.”

“- Ah! mas eu queria um pretinho. Nunca recebi um pretinho, quem sabe, não chegará hoje! Era Dª Zezé intervindo na conversa. Hoje, ainda? Quantos filhinhos abriga Nosso Lar? 84 crianças.”

“Dellane Voltou”

“Certa vez, recebíamos a visita de um casal amigo. O carro ficou estacionado na frente. À saída, descobrimos que havia uma criancinha em cima do carro da visita. Veio à discussão. “É meu, disse o General. Afinal de contas, foi posto na frente de minha casa”. “Nada disso, interrompeu o amigo. Está no meu carro, será meu”. E levou a criancinha. Dias depois, acanhado, volta com o bebê nos braços. Estava dando muito trabalho. Foi assim que Gabriel Dellane voltou para casa … ”

“Pela Voz”

“- Mas Dª Zezé, como se dá seu relacionamento com essa filharada toda, hoje espalhada pelo Brasil?

– Pelo Brasil e pelo mundo. Temos filhos em todos os lugares. Nosso relacionamento é o melhor possível. Eles vêm aqui, telefonam, dão notícias. A alguns reconheço pela voz. Eles ficam felizes e eu, mais ainda. Há netos e bisnetos espalhados por aí.

E continuam os depoimentos de Dª Maria José:

”Linha Cruzada”

“- E todo esse Amor, como se descobriram a senhora e o Gen.Leite?

-Foi em São Paulo. Residia, então na companhia de uns tios. Certo dia, tentando telefonar para amigos, dei com uma linha cruzada. Não desliguei. Do outro lado, uma voz que me convidava à conversa. A certa altura, diz o dono da voz: “Gostaria de me encontrar com você”.

Respondi: “Eu também”.

Marcamos encontro na Confeitaria São Paulo, espécie de Colombo paulista. Dei-lhe uma descrição enganosa de minha pessoa. Loura, tamanho médio, olhos verdes, cabelos encaracolados. Tudo contrário ao que sou e era. Na hora marcada estava eu lá. Vi quando ele chegou.

Começou a procurar a moça loura. Olhava desconfiado para um lado e para o outro. Quando já fazia algum tempo, antes que ele desistisse e fosse embora, abordei-o:

– O Senhor está procurando alguém?

– Estou sim. Marquei um encontro com uma moça loura.

Pelo visto, ela não veio.

– Essa loura sou eu! respondi.

E foi a conversa mais feliz. Na despedida, combinamos outro encontro e ele me advertindo:  “Não vá em enganar outra vez”. Não enganei. O resultado desse encontro aparentemente fortuito, vocês já conhecem.”

Peixotinho

Peixotinho foi um marco em minha vida. O encontro com ele, no Rio de Janeiro, mudou a minha história, a de meu marido e naturalmente, a história de muitas centenas de pequeninos.

Lembro-me da casinha da Praia Vermelha, que o Peixotinho e a Baby ocupavam com os filho.  Os companheiros do “André Luís” enchiam a casa aos domingos. Era uma festa. Cada visitante trazia seu farnel. Tudo era pretexto para estarmos juntos. E eu ficava ali, colada, conversando, fruindo aquela convivência com o casal. A turma se espalhava, a maioria ganhava a praia.

Mas eu preferia a convivência com os dois. Foram dias efetivamente felizes, em que construímos as bases de nossa vida. Além do mais, o encontro com Scheilla, a gravidez do filho único, que herdou o nome do pai e ficou conhecido como Totinha … E Cibele e todos os demais.”

“Nada de Choro”

“O encantamento foi quebrado num dia de grande sofrimento: 02 de junho de 1987.”

“O agressor tinha sido funcionário da Casa de Repouso, marido de uma funcionária que, então, ainda trabalhava aqui. Foi a forma que ele achou justa de cobrar o que admitia ser direito seu. Não sabia o que estava fazendo. Já não vive mais. Como era ríspido, logo depois encontrou um desafeto que respondeu a uma outra agressão sua. Foi a última.

Nada façam contra o agressor, foi a ordem que transmiti aos filhos revoltados, a maioria adolescentes, sem estrutura para compreender os grandes enigmas da vida. Dias depois, recebemos o primeiro recado de Leite, da Pátria Espiritual. Ele conseguiu comunicar-se através de médium, residente no sul do país. Lá estava ele, agradecido pela iniciativa de nada se fazer contra o agressor.

“Foi a forma do resgate que se me apresentou”, – dizia. “Deus haverá de perdoá-lo. Para nós, apenas a convivência foi interrompida por algum tempo. Logo, estaremos juntos de novo … ”

Meses antes desse evento, ele me deixou este bilhete. Leiam-no: “Minha querida e inesquecível Zezé – a esposa que Deus me deu. Por força de meu regresso à Pátria Espiritual e tendo em vista a continuidade de nossos ideais espíritas-cristãos, é meu desejo que você veja suas forças para continuar o funcionamento de
Nosso Lar e da Casa de Repouso.

Você tem este exemplar do Estatuto, que está registrado no Cartório Pergentino Maia; como se lê na página 19, e pela letra “g”, do artigo 61, você reunirá os poderes totais, como Presidente e Tesoureira da Instituição.

Você manda e manipula todos os haveres, móveis (dinheiro) e imóveis. Portanto, não haverá desamparo material. Não é possível que faltem bons orientadores e você, com o espírito dotado de força de vontade invulgar, há de levar até o fim as tarefas que Deus nos confiou.

Eu estarei sempre junto de você, nunca me esquecerei e quando você chegar aqui será recebida como merece, porque soube resistir a todos os embates duros que o nosso passado e presente nos ofereceram, Deus esteja com você, minha querida!

Seu esposo, Leite.”

 

Fontes: